Na manhã do dia 9 de setembro, Vanete Almeida, uma grande líder das trabalhadoras rurais que atuou junto com Euclides principalmente durante a década de 80, faleceu em decorrência de um câncer.

Com certeza mais uma grande perda para o movimento sindical rural e um momento para aqueles que continuam sua luta, reavaliarem como o exemplo dela poderá ser continuado. Sabe-se que por falta de recursos, a Rede de Mulheres Rurais da América Latina e do Caribe (Rede LAC), da qual ela com tanto esforço idealizou e conseguiu consolidar com tão poucos recursos, foi fechada. Esta rede integra mais de 25 mil mulheres espalhadas em 23 países que trocam suas experiências, compartilham vitórias e lutam por mais automia em suas difíceis vidas no campo. Lamentável é dizer que um projeto tão grandioso como este, há algum tempo encerrou suas atividades no Brasil por falta de recursos financeiros.

Junto com Euclides Nascimento, Vanete enfrentou várias questões, principalmente pela inserção feminina no meio sindical, iniciando o processo de organização sindical de mulheres no Sertão de Pernambuco. Sua luta foi inpiração para várias ações e está descrita inclusive, no livro “Ser Mulher num Mundo de Homens”, de Cornélia Parisius (Ed. SACTED/DED).Vanete foi assessora da Federação dos trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (FETAPE), presidiu o Centro de Educação Comunitária Rural, no município de Serra Talhada (PE), integrou o Conselho Nacional de Políticas para Mulheres, de 1996 a 2003 e, em 2005, foi indicada pela ONG suíça Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, ao Prêmio Nobel. Em 2002 ganhou um conceituado prêmio pomovido pela revista Cláudia e em 2009, ganhou o Prêmio Trip Transformadores por sua atuação pelo próximo.

Quem conheceu Vanete Almeida sabe muito bem que suas ações foram muito além do que os prêmios constatavam: simplicidade e verdade. Este era o lema de Vanete em tudo que fazia e foram estes valores que a fizeram chegar tão longe e torná-la uma verdadeira líder das mulheres rurais.

FOTO: Bruno Miranda/Na Lata

Diante da perda, fica a pergunta: será que os próximos líderes serão capazes de compreender e lutar com tanta veemência em nome do próximo? Ou será em nome da damagogia que os ‘feitos’ poderão representar? É triste constatar que pessoas tão inspiradoras estão nos deixando. Mais triste ainda é perceber que poucos se importam em continuar trabalhos tão importantes como os que Vanete iniciou.

Só nos resta torcer para que, aqueles que se dizem lutar pelo trabalhador e trabalhadora rural, coloquem a mão na consciência coletiva. O que é o topo quando falamos de coletividade no campo? Reforma agrária. Enquanto isso não sair do discurso, a utopia continua e os sindicatos continuarão em defasagem, perdendo cada vez mais seus líderes sem outros para continuar a quebrar paradigmas, assim como Vanete quebrou quando mostrou às trabalhadoras que elas tinham voz e poderiam fazer suas próprias histórias, serem independentes e vencer o machismo.

Que a voz interna de cada mulher, trabalhadora rural ou não, possa ter uma força chamada Vanete Almeida que as movam sempre para lutar por aquilo que as oprimem. Parte mais uma líder e partidos ficam nossos corações com sua partida, mas que agora ela, assim como foi com Euclides, ecoa na eternidade!

Conheça algumas lições de Vanete sobre a vida neste documentário que integra o projeto EU MAIOR, que fala sobre autoconhecimento e busca da felicidade.