O Sindicato de Vicência foi interditado e eu cheguei a ser preso por uma semana. Houve também uma intervenção na Fetape, onde os companheiros da direção foram presos e assumiram os suplentes. A luta foi ferrenha. A Igreja se dividiu: os mais progressistas tentavam reerguer a Federação, e os demais se aliaram à Ditadura. Nesse período, todas as conquistas alcançadas, a partir da negociação feita com Miguel Arraes, deixaram de ser cumpridas. Para reagir a tal situação, nós contratamos 29 advogados para defender os direitos dos trabalhadores na justiça.
Abarrotamos a Justiça do Trabalho de processos. Outra estratégia utilizada era, ao invés de fazer reclamações isoladas, reuníamos cerca de 40 ou 50 trabalhadores rurais e formalizávamos uma só petição. Mas a perseguição era grande. Chegando o período das eleições para a diretoria da Fetape, eu compus a chapa e fui eleito com Euclides e o companheiro de Palmares, Sebastião Santiago. Nossa equipe iria substituir a diretoria que havia concluído a gestão, durante o processo de intervenção.
Era o ano de 1966, mas a perseguição continuava. Os integrantes da gestão que nos antecedeu foram perseguidos, alguns foram mortos e tiveram os corpos desaparecidos, outros foram torturados, até que ficaram com a saúde comprometida. Decidimos denunciar esses atentados na imprensa, contratamos advogados e conseguimos fazer com que esses torturadores fossem processados e presos. No entanto eles responderam ao processo
em liberdade, porque tinham advogados para isso. Mesmo assim, seguimos utilizando essa estratégia de contratar advogados, para proteger os nossos companheiros. Na Mata Sul, onde várias lideranças sindicais foram torturadas e mortas, nós também fechamos o cerco aos criminosos.
Na época, houve uma perseguição forte aos delegados sindicais e às lideranças que lutavam pela terra. Vários companheiros foram perseguidos e torturados pelo Regime Militar. São inúmeros os
casos de violência que abalaram o nosso Movimento, nesse período. Foi preciso muito fôlego na alma e coragem para lutar.

Depoimento registrado no jornal “O Campo: meu lugar de viver, ver e transformar”
https://www.fetape.org.br/imagens/publicacoes/O_campo_miolo_final_W