O documentário A Voz do Campo (The Voice of Field), com direção e roteiro da jornalista pernambucana Daniella Almeida, é destaque em três festivais internacionais de cinema alternativo.
O mais recente é o “Newark International Film Festival”, que acontece entre os dias 7 e 13 de setembro de 2021, nos Estados Unidos. O festival, reúne diversos profissionais do cinema mundial e da indústria do entretenimento de Nova York e Los Angeles.
The Voice of Field também foi selecionado para os festivais “First-Time Filmmaker Sessions” e “The Lift-Off Sessions”, ambos realizados no primeiro trimestre deste ano pela Pinewood Studios, na Inglaterra.
Confira abaixo, o recado da Daniella, sobre a participação da produção no festival Newark e que será exibido durante o festival, minutos antes do filme A Voz do Campo.
Documentário narra trajetória do avô da diretora
A Voz do Campo foi produzido no ano de 2009 e sua estreia em São Paulo aconteceu em 2011. O filme narra a história de vida do sindicalista rural Euclides Nascimento e a fundação do movimento sindical rural de Pernambuco. Distribuído pela Cultzone Filmes, ele aborda questões sobre ditadura, conquistas da classe camponesa e lideranças rurais.
Para Daniella Almeida, diretora do filme e neta de Euclides, o reconhecimento internacional do seu trabalho foi uma feliz surpresa. “Esse foi o primeiro trabalho audiovisual que fiz e ter sido selecionada por estes festivais, após todos estes anos, é uma grata surpresa. Como diria meu avô: toda semente que plantamos um dia germina e este trabalho é a prova disso”, destaca. Segundo Daniella, este também foi o primeiro registro audiovisual do Estado de Pernambuco sobre a história do movimento sindical rural pernambucano. ” Este documentário além de registrar a luta do povo campesino nas décadas de 60, 70 e 80, foi também um valioso presente que dei ao meu avô quando ele ainda estava vivo. A felicidade dele e de seus amigos de luta na hora que se viram na tela transbordava. Participamos juntos de várias mesas, eventos e seminários sobre as lutas agrárias de outrora”, relembra.
Na época da produção, A Voz do Campo contou com uma equipe técnica de jovens profissionais de diversas áreas: Daniella Almeida (direção e roteiro), Joffre Melo (locução), Ana Rosa Passos (direção de fotografia), Jéssica Lima (produção), J.R Júnior (edição de imagens), Adiel Luna e Rafa da Rabeca (trilha sonora); Ricardo Dutra, Álvaro Bezerra, Williamy Tenório (cinegrafistas) e Henrique Bouduard (mixagem e finalização). O documentário contou ainda com a consultoria do professor e mestre em comunicação Arnaldo Carmona.
Euclides Nascimento, o herói das lutas agrárias
Natural de Buenos Aires, região da Zona da Mata Norte de Pernambuco, Euclides Nascimento foi um dos fundadores do movimento sindical rural e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape).
Como sindicalista, por mais de 50 anos teve como missão de vida, defender os trabalhadores rurais lutando pela legalidade dos seus salários, o cumprimento do Estatuto do Trabalhador Rural, a reforma agrária e demais causas camponesas, antes mesmo do surgimento do Incra e do Estatuto da Terra. Por seu destemor em enfrentar com tranquilidade e astúcia os latifundiários da sua época, Euclides é considerado por muitos, um verdadeiro herói das causas agrárias.
No documentário, Euclides, na linguagem “campona”, como ele mesmo definia, destacava que, “apenas semeando a semente da história do movimento, é que o espírito de luta daquela época pode ser despertado e resgatado nos atuais jovens camponeses”. Ele faleceu em 26 de dezembro de 2011, aos 79 anos.
Para Henrique Bouduard diretor executivo da Cultzone Filmes, o documentário é um grande marco das produções estudantis-universitárias. “Ao se lançar para o mundo, A Voz do Campo ganhou peso e com isso pode contar com um trabalho de pós-produção. É um longa metragem sobre a história do Brasil com visibilidade global. Estamos muito orgulhosos deste projeto que nos projetou para o mercado cinematográfico como uma produção de ponta por meio de uma história de vida fascinante, que agora é vista e reconhecida pelo cinema internacional”, comemora Henrique.
Roteiro cativante
O roteiro de A Voz do Campo é permeado de histórias fortes e emocionantes. O filme relembra momentos marcantes da vida de Euclides em paralelo com o início do movimento sindical rural pernambucano. Os recortes são feitos por meio de depoimentos do próprio Euclides, estudiosos, pesquisadores e daqueles que fizeram parte da sua trajetória. Canções marcantes do movimento e trilhas com ritmos típicos da região da zona da mata pernambucana como coco, repente, maracatu rural, baião, entre outros estilos, contribuem para a construção do documentário que também conta com uma versão em curta-metragem, com duração de 20 minutos, além do longa de 57 minutos.
Fotografia: Ana Rosa Passos