Quem conheceu Euclides Nascimento sabe que a ele nunca faltou coragem para enfrentar quem quer que fosse, até mesmo um ministro do trabalho nos tempos da ditadura, um oficial do exército, um usineiro ou um senhor de engenho.
Um episódio que ele costumava contar era sobre a ocasião em que devolveu o ‘abano’ na face de um militar no início dos anos 70. O fato inclusive já foi rememorado, pelo antropólogo Afrânio Garcia, ex-assessor de movimentos sindicais, e hoje professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris.
Preso no IV Exército, Euclides estava sendo questionado pelo comandante, que inclusive, o respeitava por suas justificativas absolutamente legais e argutas de suas ações:
– O que aconteceu, Euclides, você endoidou? Meteu a mão na cara de um oficial do exército? Desse jeito é impossível aliviar sua barra!
– Sabe o que é senhor comandante? É que nós matutos, temos que o que aprender com o povo refinado e sabido do Recife. É que o major chegou para mim gritando e fazendo muitas perguntas. Quando fui falar ele abanou a mão na minha cara antes de eu dizer um ai. Então pensei : essa deve ser a nova moda no Recife entre o pessoal educado.
Sendo assim, terminei fazendo o mesmo: balancei a mão na cara do major antes dele começar a responder.
Diante da ‘inocente’ e sábia explicação, daquela vez como em tantas outras, Euclides foi solto.
[box] História relembrada por Marta Cioccari, jornalista, antropóloga e pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro[/box]