No dia 30 de outubro de 1930, Ladislau Almeida do Nascimento casou-se com Joana Maria da Conceição. Eles eram um casal de agricultores e não tinham propriedade de terra. Neste tempo quem não tinha terra arrendava um sítio com um determinado tamanho, medido em hectares, para poder plantar o que quer que fosse. Quem plantava cana de açúcar era chamado de lavrador e esta era a condição de Ladislau.

Nesta época ele arrendou um sítio para plantar cana. Naquela época, ainda não havia usina de açúcar e, por isso a cana era conduzida a cavalo até o engenho para ser moída. Chegando lá ela era direcionada para a moenda através de um bangüê conduzido por dois homens. Após o processo de moenda, o caldo da cana era depositado em um tacho de ferro revestido de cobre e ali era feito o mel, cozinhado na lenha. Neste tempo tudo era feito sem energia elétrica e o trabalho era manual.

Após o mel atingir o seu ponto ideal, ele era despejando em uma forma de madeira. Após o endurecimento do mel, ele passava a se chamar pão de açúcar e desta forma estava pronto para ser comercializado.

Era neste ofício de moer cana que Ladislau sobrevivia dos 50% do lucro da venda do pão de açúcar. A outra metade era do proprietário do engenho que cedia parte de suas terras para ele plantar e moer a cana.

O engenho em que Ladislau trabalhava se chamava Cumbeba, localizado no município de Aliança, Estado de Pernambuco. Certa vez Ladislau havia produzido 18 pães de açúcar, mas na hora de vender os pães, o dono do engenho disse que haviam sido apenas 12. Então, começou uma grande confusão. De um lado o trabalhador que verbalmente agrediu o dono do engenho e o chamou de desonesto. E do outro lado o dono do engenho, que partiu para a agressão física. Nesse momento, os presentes tiveram que apartar a discussão.

Geralmente quem tinha o poder da justiça nas mãos era o coronel, ou seja, o dono do engenho. O trabalhador não tinha direito de defesa e o que o coronel falasse era regra, tendo o pobre trabalhador que aceitar tudo que ele dissesse. E neste caso Ladislau não teve escolha: ou recebia apenas seis pães (que era os 50% do qual tinha ‘direito’) ou perdia tudo. Ele que tanto havia trabalhado teve que dar quase tudo ao coronel ‘dono da lei’. Revoltado com toda aquela situação o lavrador deixou o Engenho Cumbeba em busca de outro sítio para arrendar.

A distância entre a cidade de Aliança (onde ficava o Engenho Cumbeba) e o município de Vicência é perto de 38 quilômetros. E foi para lá que Ladislau foi em busca de mudanças e nesta região procurou um gande e velho amigo seu chamado João Joaquim.

Neste reencontro João informou ao amigo Ladislau:

– Aqui perto tem um engenho de nome Cafundó e parece que lá eles arrendam sítio para a plantação de lavoura branca.

Ladislau então, rapidamente dirigiu-se ao engenho indicado pelo amigo e chegando lá, logo arrendou um sítio com três hectares de terra. Feito o arrendamento, o próximo passo foi voltar para Aliança e buscar sua família, agora para morar na cidade de Vicência.

Depois de todos terem mudado para o novo município, o agricultor iniciou seus trabalhos no engenho Cafundó, desta vez, cultivando e vivendo da lavoura branca e assim, nunca mais quis saber de plantar cana de açúcar.

Junto com Joana, Ladislau teve sete filhos: Euclides, Nativo, Manoel, Ermita, Emília, Severino e Luíz.

Ao juntar os filhos para contar sua história de vida e a sua luta por um pedaço de terra, todos ficavam muito tristes de perceberem algumas injustiças. Certa vez, um deles, o Euclides, disse:

– Pai, quando eu crescer, vou estudar para tirar os pobres das mãos dos coronéis.

E não é que assim ele fez? Anos mais tarde Euclides tornou-se um grande líder sindical, tendo, a partir dos anos 60, fundado no Estado de Pernambuco os primeiros sindicatos rurais para defender os direitos do homem do campo. E foi com a formação dos sindicatos que o poder dos coronéis foi ficando cada vez mais enfraquecido.

A luta de Euclides estendeu-se até o dia de sua morte, ocorrida no dia 26 de dezembro do ano de 2011. Graças a todo seu esforço em prol da classe camponesa, percebida ainda menino com as injustiças sofridas por seu pai, os trabalhadores tiveram e tem até hoje seus direitos amparados pela lei, agora sem que nenhum coronel mande ou demande.

[box] História narrada por Manoel Almeida do Nascimento, irmão de Euclides.[/box]